Queijo

A história da fabricação e consumo do queijo na região do Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro se confunde com a história do povoamento de Minas Gerais, iniciado no ciclo do ouro. A Vila de Paracatu do Príncipe, instalada em 20 de outubro de 1.798, compreendia uma área equivalente à metade do Estado, começando no sul, passando pelo Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba, Noroeste e Norte de Minas, além de parte do Estado de Goiás e para lá se dirigiam várias caravanas em busca de riquezas, sendo que muitas delas ficavam pelos caminhos originando fazendas e povoados.

Relatos da época são ricos em descrições detalhadas da vegetação, tipo de solo, serras, rios e habitantes encontrados pelos caminhos. Entre os costumes daquele povo são descritos alguns hábitos alimentares, nos quais o queijo, fabricado de forma artesanal, já era incluído.

O queijo tradicional de Minas, feito a partir de leite cru,, teve sua fabricação iniciada na região pelos colonos que aqui chegaram junto com as “entradas e bandeiras” à procura do ouro. Inicialmente fabricado de forma rudimentar nas fazendas que ficavam ao longo dos caminhos do Rio de Janeiro, o queijo Minas começou a ser levado para as cidades e vilas onde tinha uma boa aceitação, passando a ser um elemento reconhecido na Economia da época.

Em Minas Gerais, o Queijo Minas Artesanal sobreviveu às pressões da modernização dos processos de produção, não só pelo apego às tradições, mas também pelo isolamento das propriedades produtoras, espalhadas pelas colinas e pelos vales do Estado. Isso contribuiu para que se preservassem produtos com características próprias e de imenso valor cultural e econômico.

Atualmente, o queijo produzido em Monte Carmelo é reconhecido oficialmente como Queijo Minas Artesanal, sendo permitida a sua comercialização. Juntamente com Uberlândia, os municípios de Araguari, Cascalho Rico, Estrela do Sul, Indianópolis, Monte Alegre, Monte Carmelo, Nova Ponte, Romaria e Tupaciguara passam a formar a sexta região produtora de Queijo Minas Artesanal do Estado. A certificação cria mais uma alternativa de trabalho para os pequenos produtores de leite da Agricultura Familiar da região de Monte Carmelo e todo Triângulo Mineiro, gerando emprego, melhoria de renda e qualidade de vida.

O queijo produzido nessa região carrega muita tradição e fidelidade ao modo de fazer os primeiros queijos. De casca semidura, de textura compacta. cor branca amarelada, sabor ligeiramente ácido, amanteigado e consistência macia. Diferente do canastra, o tempo de maturação deve ser médio.

Em entrevista a Diego César Veloso Rezende – Extensionista Agropecuário da EMATER-MG em Monte Carmelo; um dos principais idealizadores do atual progresso e desenvolvimento da produção queijo na região, ele coloca importantes ponderações sobre a política de produção atual do Queijo Minas Artesanal:

“No tocante à ideia de colocar o queijo no circuito de premiação, surgiu por meio de visitas aos produtores de queijo da região, que questionavam a possibilidade de melhoria do mercado, agregando valor, a fim de obter a valorização da família e do produto, o que levou à promoção também da região.”

Esse Programa do Queijo Minas Artesanal tem como foco a valorização local e cultural da sua região, a agregação de valor ao produto melhorando a qualidade de vida dos produtores e também a sucessão familiar, em que a produção é conduzida de pai para filho, incentivando os filhos a permanecerem na zona rural, trabalhando significantemente a redução do êxodo rural.

Atualmente, os planos para os produtores de queijo envolvem o aumento da produção com foco na qualidade e na quantidade. Para se ter uma ideia, na busca pela qualidade e excelência do produtos, os produtores de queijo hoje utilizam um coalho (componente essencial na produção do queijo) importado da França. São novas alternativas para melhorar a qualidade do queijo.

Esse empenho na qualidade, o trabalho de marketing no produto, com foco na produção familiar, resultou em relevantes premiações em concursos. Entre as premiações podemos elencar os prêmios recebidos pelo queijo produzido pela família Fernandes, que recebeu duas medalhas de OURO no World CheeseAwards (2015-2016), o maior concurso de queijos do mundo, realizado no BBC GoodFood Show, em Birmingham, Inglaterra; o Queijo de Azeitão DOP venceu na categoria de campeões supremos e o Queijo de Ovelha Curado venceu na categoria de queijo de ovelha de cura normal. Não menos importante, no Concurso Estadual do Queijo Minas Artesanal, realizado em Tiradentes/MG (berço do tradicional Queijo Canastra), evento promovido pela própria EMATER, esse mesmo queijo Fernandes recebeu o prêmio de melhor queijo do Triângulo Mineiro, seguido pelo queijo Luana, também produzido nesta região, ambos vitoriosos por dois anos consecutivos neste concurso. Outros grandes queijos tem sido destaque, neste ano de 2019 o Queijo Falcão ficou em terceiro lugar no Concurso “Mundial da França” e, no Festival Mundial do Queijo em Araxá, o queijo FALCÃO recebeu o prêmio Super Ouro, o queijo CARRANCA prata e o queijo LUANA, bronze.

O segredo do queijo do cerrado, em relação ao queijo canastra, principal “concorrente”, refere-se ao “Pingo” (Pingo é o soro extraído do leite usado na fabricação do queijo); nele se concentra o DNA do queijo que traz as características da região, como as pastagens, a altitude, a alimentação dos animais, a raça do gado, o relevo, o clima, a higiene da propriedade rural; questões diferentes em cada local produtora do queijo, seja ela canastra, do serro, do sul de minas.

Queijo Fernandes possui um pingo diferente do queijo Luana, e eles se diferenciam por seus pingos, o chamado Terroir (palavra francesa que em livre tradução, é o que torna uma característica, diferente da outra no queijo).”

O Técnico frisa, ainda, a futura consolidação de uma nova marca o Cajoca que vem crescendo, se destacando e está em processo de cadastramento ao projeto de Queijo Artesanal Minas; este, forte candidato a futuras premiações e receptividade ao mercado exigente de queijos.

É importante colocar que todas as queijarias desta região baseiam sua produção na sustentabilidade, em todos os suas particularidades, com padrões e critérios rígidos e definidos. Frisa-se também a qualidade de vida e os cuidados com o animal, fornecedor da matéria prima do queijo.

Diante das esclarecedoras conclusões de Diego, concluímos a importância desse produto, que se torna a aposta empreendedora na região do Coração do Cerrado a fim de impulsionar o progresso empreendedor, com o objetivo claro de se tornar parte do seleto grupo de produtores de queijo reconhecidamente premiados.

E com esse grande destaque, a região do Coração do Cerrado despertou o interesse da organização do Prêmio Queijo Brasil, que escolheu a cidade de Monte Carmelo para sediar a sexta edição do evento, em 2020.